Em conclusão, a biópsia hepática confirmou a existência de cirrose completa com atividade necroinflamatória muito ligeira (Score Isaak e Batista 3 em 18) ( Figura 1, Figura 2 and Figura 3). Após o diagnóstico de cirrose hepática, os autores questionaram-se acerca de possível etiologia. No sentido de esclarecer esta dúvida foi feita investigação das principais causas de cirrose hepática. O doente negou persistentemente o consumo de bebidas
alcoólicas. Sendo esta a principal forma de diagnosticar a etiologia alcoólica, considera-se excluída, ou pelo menos pouco provável. Apesar find more da pouca especificidade, sobretudo na fase avançada da doença, existem alguns indicadores que podem sugerir outra causa que não a acima mencionada, nomeadamente: ratio AST: ALT < 2, ausência de corpos de Mallory na histologia hepática, ausência de macrocitose, doseamento
de ácido fólico e vitamina B12 normais. Todas as serologias para a pesquisa da hepatite B e C crónica foram negativas. Não existe também história de endemicidade nem de comportamentos de risco que aumentem a probabilidade de infeção por estes vírus. A pesquisa de autoanticorpos foi negativa, o doseamento de IgG normal e a histologia hepática não revelou sinais sugestivos de hepatite autoimune. De acordo com o International Autoimmune Score, esta etiologia foi excluída (Score diagnóstico = 3). Doenças metabólicas hereditárias: hemocromatose, doença selleck de Wilson e défice de Amino acid α1-antitripsina estão excluídas perante os resultados analíticos e da biópsia hepática supracitados. A cirrose biliar
primária tem características patológicas próprias, contudo no estádio terminal de doença hepática crónica a etiologia pode ser difícil de distinguir. Alguns dos aspetos particulares são a colestase crónica, deposição de cobre, transformação xantomatosa dos hepatócitos, fibrose biliar e ductopenia. Para além das alterações histopatológicas, também a presença de autoanticorpos tem importância no diagnóstico. No caso clínico descrito destaca-se ausência de colestase histológica e analítica, assim como autoanticorpos ausentes. Doentes com insuficiência cardíaca direita prolongada podem desenvolver lesão hepática crónica e cirrose cardíaca por aumento da pressão venosa transmitida através da veia cava inferior. A prevalência deste tipo de cirrose é muito reduzida e com os progressos da terapêutica para a insuficiência cardíaca tornou-se mesmo uma causa rara. A ausência de insuficiência cardíaca congestiva neste doente exclui esta hipótese. As drogas são uma importante causa de lesão hepática. As manifestações de hepatotoxicidade induzida por drogas abrangem um largo espetro, por esse motivo o elevado índice de suspeição é fundamental para o diagnóstico. Esta hepatotoxicidade tem características agudas na maioria dos casos, contudo é possível a evolução crónica, sobretudo aquando da ingestão prolongada.